25.5.09

Empreitada

Estou envolvida numa grande empreitada - bem, nada sério. Ando buscando outro título, um arrebatador, um que valha à pena roubar.
O primeiro já escolhi há uns dois anos. Certamente não absorvi tudo o que ele tem a dizer; talvez nem a metade sequer. Ótimo livro: Espelho Cego - Robert Menasse. A história de nós dois é assaz romântica. O encontrei por acaso numa estante esquecida da biblioteca da cidade, e ainda ali, encostada nos ácaros, resolvi que era um dos meus preferidos. E o motivo da empreitada.
Preciso de outro título, e tenho que encontrá-lo na mesma biblioteca e o exemplar deve ser único. Um não-clássico. Um difícil de encontrar, como o Menasse.
Li um um interessante (mas que não valeria à pena roubar, pois tornou-se best-seller) que tratava de um louco que queimava livros; caçava títulos de um determinado escritor só para acabar com eles. E então, os livros tornavam-se raridades. Bobagem! Ao que nos parece, informação já não nos é dada: é cuspida, vomitada! Que importância têm os livros? E os livros velhos? E - ainda - os de autores desconhecidos?
Uma pequena empreitada - o primeiro título está escolhido. Preciso de outro igualmente brilhante para roubar da biblioteca. Isso mesmo! Roubar! Que vai fazer lá? Tenho visitado meu futuro livro com frequência e, há dois anos, continua na mesma estante, esquecido e mal-tratado. Quem frenquenta a bliblioteca da cidade nem passa das estantes dos lançamentos. É uma pena que ninguém se aventure nas outras estantes, portanto o livro já é meu. O que era raro, ficou comum.

18.5.09

15-05-09

À parte toda a rotatividade e movimentos que se descortinavam diante dos seus olhos, seu corpo padecia de uma paz doentia, uma quietude e imobilidade não habitual. Como se respirar fosse sôfrego, quiçá desnecessário. A circulação pulsava lenta, pulsava somente o essencial. Frio nos lábios, palidez no rosto.

 Espasmo. Espanto: algo novo lhe era atribuído. Uma espécie de novo rumo revelado. Eis a verdade! Restava-lhe mudar o sentido e prosseguir o caminho, a caminhada.

Aos poucos a dormência foi perdendo força, primeiro nos dedos dos pés, logo nas pernas inteiras. Um formigamento que lhe fazia cócegas, incômodo. Impelindo-o ao inevitável ato – levante-se logo!

As milhões de formigas invisíveis agora brincavam de títeres, colocando suas pernas uma frente a outra, formando passos. Uma força certamente exterior o impelia, o movia.

Não soube dizer o destino final. Não soube o próximo passo, nem se seu caminho iria ser configurado novamente em breve. Importante era ir caminhando, que as coisas iriam configurar-se por si. À mercê. Completamente entregue a.

Simplicidade: apenas chão e passos. Por vezes, um chão acidentado, repletos de pedras e calombos amorfos. Os pés nem sempre calçados.

Um sorriso foi desenhado, face cansada e astuta. Destino: destino algum. Com tranqüilidade, suspirou, respirou e sentiu o calor lhe voltar ao corpo. A cor, voltar aos lábios e a circulação lhe fervilhar as veias. Os olhos voltavam a brilhar, antes opacos, sem vida.

Diante de si, imensidão. Perplexo, ainda espantado. Mas pacífico, como um centro de gravidade sugando-o, equilibrando-o.

Andava seu caminho, e seu caminho descortinava-se.

13.5.09

Hiperatividade

Apenas uma qualidade moral moderna para quem não sabe parar.
É tão difícil olhar para si um instante? Sim, é.
A tarefa, o fazer, é o que rege, movimenta. Se pára, pára. (Aqui não sigo as novas regras gramaticais. Sou das antigas)
Preencher as lacunas, todos os buraquinhos, é preciso para anestesiar o corpo. É preciso para passar o tempo. Caleja. Acostuma-se.
E a rapidez de tudo? Frenético.
E se pára, pára!
Se for à força, só parada cardiovascular.
Só stress.
Só as formas drásticas, parada crítica.