Há um banheiro numa galeria na Liberdade. Fica no subsolo, em
frente ao cara que faz peeling e acupuntura. É um dos banheiros mais limpinhos.
Já fiz várias incursões pela cidade de São
Paulo. A última vez, me perdi um pouco dentro da Estação da Sé. Ando boiando
ouvindo alguma música e, às vezes, sigo o fluxo e acabo na direção errada. Mas
quando me perco não fico preocupada, confio demais em placas e coisas do tipo.
Acabo encontrando a direção. Etc.
Assim, quando vou a São Paulo, ando
demasiadamente.
Tive que voltar da Cidade Universitária,
uma vez, sem ao menos saber que ônibus devia tomar. Lembro que estava frio e,
zanzando perto da Estação Anhangabaú, pensei se conseguiria enganar os
transeuntes ou se na minha cara estava estampado “forasteira”. Bobagem: todos
que zanzam por São Paulo são forasteiros.
Outra vez, fui assistir a uma peça com um amigo. Ele me fez andar
quase a Consolação inteira e garoava. Mais tarde, passei o resto do dia na Livraria Cultura (um dia muito gelado,
por sinal). Repetidas vezes andei a linha azul inteira pra chegar ao Terminal do Jabaquara.
Perambulei pela Vila Madalena, em 2010, buscando um lugar pra
almoçar. Sozinha, num congresso. Ao que um grupo de estudantes do mesmo
congresso me chamou pra almoçar. Então todos, perdidos e estranhos, procuraram
um restaurante naquele bairro metido à besta. Encontramos um vegetariano
estranhíssimo.
Tomei vários cafezinhos numa padaria muito suspeita na Virada
Cultural, perto da 25 de Março. Marquei de encontrar com um amigo lá e, quando
chegou, perguntou que diabos eu fazia num pardieiro daqueles.
Já andei pela linha amarela só pra ver como era bonita. Fui ao
Museu do Ipiranga só olhar aquele jardim. Fui ao Museu da Língua Portuguesa, ao
MASP. Ao zoológico. Comer pão com mortadela no Mercado. Por curiosidade mórbida
já peguei metrô na Estação Corinthians-Itaquera de manhãzinha (e não é nem um
pouco agradável). Já andei pela Vila Formosa. Aliás, já andei do Tatuapé até a
Vila Formosa. A pé.
Minha memória tende a falhar e não sei quantas vezes andei por São
Paulo, e gosto muito de lá (daí, se aí você se encontra). E, claro, quando
converso com um paulistano ou alguém que mora em São Paulo, dizem que meu gosto
pela cidade é puramente coisa de turista.
Pode até ser. Se eu morar um dia em São Paulo ficarei tão
entediadamente ocupada com algum emprego e não verei o metrô do mesmo jeito.
Nem as ruas, nem as pessoas desconfiadas e simpaticamente mal-educadas. Talvez
eu até encarne a cara de zumbi das pessoas do trem.
Mas é uma bela cidade para a solitude e incursões sem propósito. De
qualquer forma, há um banheiro limpo e confiável na Liberdade, subsolo de uma
galeria de quinquilharias, pode confiar.