23.11.06

23 de Novembro

Exemplos, sempre eles: sucessão das mesmas impressões; não! A coisa numa sucessão de fotos, a coisa girando. A coisa pleonástica, por vezes grotesca, outra vez apagada ou em palanque. Exemplos são estatisticamente tudo; palpavelmente foram, o foram em frações: uma boca desdentada sorrindo maliciosamente. Palpavelmente o foram e não são mais. Mas alguém orgulhosa e nostalgicamente emoldurou e enfileirou a coisa em suas poses possíveis e impossíveis.
Entretanto, a insuficiência. A face que não se vê: a face da Lua. Rochas, bifurcações, fissuras, depressões, tropeços, vales, montanhas pontudas bem palpáveis, bem visíveis, contorno a contorno, linha a linha. É a Lua que. O fim, o fim de um semi-círculo; menos: um setor circular.
Entre o verde e o vermelho: a cor. Entre o nariz e as mãos: o corpo. Definitivamente aponta-se ao alvo para que o dardo perfure no centro, perfure com a ponta afiada, pontual, precisa. Dimensionalmente um ponto certo, central; mas um ponto. Diversos dardos, não todos, atingem e atingirão o ponto certo com seu ponto. É o fim. Fim? Para o ponto.
Pontinhos míseros, adimensionais e pretos que teimam ser o próprio objeto - especificamente o espelho - dos orgulhosos. Refletindo aos lados à luz não a sua adimensão e sim a Coisa, concorde consigo. Os exemplos confirmam com a cabeça, aplaudem e mostram nos corpos nus tatuagens da Coisa. A Coisa toda condensada, numa idéia biruta minimalista. Para ilustrar, para fins didáticos, resumidamente, em suma.
A Coisa que é, a Coisa indivisível, ultrapassando os sonhos mais febris de Demócrito - e ainda de Bohr -, perscrutada partícula a partícula, pó a pó, como deveria ser feito com a face da Lua antes de se fazer com a desconhecida - pois a Lua não é.
O inimaginável, o inatingível do inatingível, a Coisa que se autodestrói satisfeita continua insatisfeita; antes caçoa, zomba, ri, mesmo, de todas essas migalhas: porque somos miseráveis, miseráveis sentados numa sofá fofo florido sorrindo para TV; miseráveis porque. O contentamento antes de poder o contentamento surgir, talvez porque seja curta a vida. Ou porque a vida assim se define ponto: pequena em sua grandeza, grande em sua miséria. Pontual.
Exemplos, réplicas, espelhos que refletem. Mixando estatisticamente tudo, temos tudo, dentro de um ponto. Rimos, brindamos, rimos. Escolhemos a capa e o lugar na estante para que mofe esquecido e finalizado. Conclusão não concludente. Cegos ganhando prêmios de visionários. Conclusão manipulada.
Conclui-se com satisfação antes mesmo - infinitamente antes - de concluir. E o mundo se torna pequeno, um bebê, um inocente.

11.11.06

Dia

Dias de sol não são muitos.
Não raro contento-me com raios tímidos por entre nuvens hostis
Uma cor cinzenta hostil
Uma passividade mórbida...hostil.
Por vezes chove, chove e as nuvens são impermeáveis, rochedos.
***
Soprará pra longe o vento
Trará uma passividade suave, serena
O Sol, que iria queimar na seca da alegria forçada, somente esquentará minhas mãos frias]
E eu, sim, não temerei tão fundo
Nem tremerei...
Tristeza será, enfim, apenas uma ouvinte
Eu vou rir pra ela, contarei um segredo ou outro
Um episódio ou outro
Trocarei confidências e só...
***
Por fim, dormirei uma noite inteira
E pela manhã, o Sol tocará meu rosto só pra me lembrar que é dia.
O dia que é o vário e não o sempre
O dia que é o riso e não gargalha
O dia, enfim, em que passam algumas nuvens; mas que não são estacionárias.]
***
(...)

15.10.06

Apatia


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Conheça um pouco do meu vazio, da minha apatia. Quem dera fosse somente manifestação artística, ou - que droga! - maneira que encontro pra alguma distração. Não, e quem dera fosse...
Como se passasse um vento, e dentro da cabeça; e que caminho sinuoso seria esse. Uma rajada de vento. Um vazio, e sendo vazio não saberia dizer seu tamanho. Apenas sinto que é grande - e angustiante. Tão real que chegasse a ser inatingível. É tão real que chegaria a anestesiar o corpo, não permitindo dor nenhuma, sequer alguma sensibilidade. Que tédio, ócio, morto.
É tão inerte que chega a ser gritante; mais que isso: é como se algo que só pudesse ser sentido, também pudesse ser palpável. Um vazio palpável, sólido - que se pode sentir os contornos, as rachaduras, as partes ásperas, as delicadas -, antiquado...Uma estátua brega que está na moda - porque ninguém percebe, de certo.
É como se disputássemos uma corrida, ou qualquer coisa que se faz às pressas, entusiasticamente; e quando se chega lá, no final, se perde o sentido. "Chegamos, o que se faz agora?". Um eterno continuar.
É tentar ver o que há em frente, planejar, se entusiasmar e não passar disso. Há um freio, um grande muro lodoso que não permite que se vá pra frente. Até que se chega a pensar que qualquer desejo de futuro seja um devaneio, coisa de louco ou utopia. A realidade seria aquela, a de estar e ser num cubículo pouco arejado, mas com ar suficiente pra se manter vivo.
É ver todos andando, num progresso metódico e natural. E sentir que não se faz parte de nada que seja natural e muito menos do progresso dos demais. É estar no lugar errado na hora errada. Não é sentir-se mal nem fracassado. E sentir-se e sempre se interrogar - "até quando?" - só aí se lembra: "até quando o que?". Nada, definitivamente nada.
É como se a linha do tempo fosse uma mola, e que qualquer força maior que a minha a controlasse e a esticasse, trazendo torturantes momentos longos, vazios, apáticos...onde impera o tédio. E que fosse solta ao belprazer quando o tédio não assola.
Talvez seja apenas uma fase. Ih! Que lugar-comum!
Um eterno continuar, voltando ao início, se concatenando, um labirinto cheio de lirismo de mal gosto - pode ser que seja de serventia pra alguém vender alguma arte.
A mim não me orgulha...só preocupa.
Vacante, vacante.

23.9.06

23 de Setembro.


Tomava sempre este ônibus, que andava sempre pelo mesmo caminho, indo para o mesmo lugar. As pessoas que entravam sempre entravam nas mesmas paradas e eram sempre as mesmas. As mesmas pessoas, sempre.
Se engolfou de tal forma na mesmice que, quando ela e tornou tão gritante, e espantou, ficou surpreso. Ora, se surpreendeu com algo antigo; e e envergonhou a ponto de levantar-se e, na parada próxima que vinha, descer desse ônibus do mesmo. Sentiu-se observado nesse ato, como se infringisse um fato natural.
O ônibus e foi, ninguém o olhava. Pensou em correr, mas seria ousadia demais. Simplesmente andou, mas mudou de rua, uma que não conhecesse ou que pelo menos não fosse rota do ônibus.
Tolo, pensou. Era, sim, um pequeno que se sentiu vazio por abandonar aquilo. Sabia onde estava, e estava perdido em si.
Sim, era pessoa certa, de respeito e trabalhadora. Era, por direito, livre. Livre até certo ponto, percebeu. Viu correntes em suas mãos e mesmo que fosse pessoa íntegra, de bom caráter, estava condenado. Essa era a condição para a liberdade, para se enquadrar nesse perfil de boa pessoa.
Antes fosse... bem, não sabia o que era o bom, mas repudiava certas coisas; mas sua forma de ser era sua prisão.
Estava condenado a ser livre e ainda iria se atrasar para o trabalho.

15.9.06

Vejam só...

E vejam só...
acabo sempre por voltar à blogs, ou qualquer meio que eu possa dizer algo; mesmo tendo consciência de que o algo pode ser assunto algum...Vejam só...
E eis que a primeira postagem depois das tantas outras paradas é só pra evidenciar a falta de assunto, a limitação sempre. Uma postagem inteira pra dizer que se volta, e que voltar nem sempre é retrocesso, mas neste caso, bem, hum...Se trata de mim...Hehe...
Parece que qualquer começo é começo qualquer...Mas como começo é começo, sempre há entusiasmo...Eba, meu blog vai pra frente! Eu sinto! (Antes que eu desanime...)