20.3.12

O boneco de pelúcia de Kant

Immanuel Kant, apesar de agradavelmente sociável, nunca se casou e tampouco saiu de sua cidade natal. Contudo, para o fascínio dos barbudos de aros-grossos, ele é tido como algum tipo de marco em suas aulas de Filosofia. Tinha o costume de tomar um solzinho e caminhar, todo dia, às 3h30 pm. Sofria bullying. Bem, se não sofria, pelo menos era alvo de fofoqueiras. Talvez sonhasse com ET’s e, sobressaltado em algumas madrugadas, acordasse para tomar um copo de água, ainda com o rosto pouco familiar de um extraterrestre nos olhos. Talvez Kant provavelmente tivesse um hobbie pouco ortodoxo, como ficar repetindo mentalmente “Agora... agora... agora... agora” e ter o deleite constatar que sua consciência é diferente a cada instante.
Ou talvez sentasse defronte com o relógio da cidade e ficasse observando os ponteiros girando devagar, enquanto alimentava pombos com miolo de pão. O certo é que não há meios de perdoá-lo por seu penteado. Ou pelas vezes que vangloriou-se, numa roda de amigos, enchendo a boca para dizer “Coisa em Si”. Mas podemos nos compadecer dele que, além de sonhar com ET’s, ainda possuía, depois de adulto (assim suponho) um medo irracional de sua mãe e de Deus (E para dormir acalentado, pode ser que dormisse com um ursinho de pelúcias...). Talvez a fama tivesse subido a seus lindos cachinhos, ou tivesse brilho nos olhos por algum aluno seu. Sua risada talvez fosse alta e inconveniente e suas piadas sem graça nenhuma. E talvez tivesse perdido um dia ou dois transformando rascunhos em bolas de papel. Muitas delas. Nunca se sabe, em se tratando de Kant.

11.3.12

Talvez eu não concorde com a "linha do tempo" do Facebook, por exemplo...

A faixa dos 20 aos 30 anos é a época mais criativa de uma pessoa. Curiosamente, quem quer que tenha dividido a vida em anos, talvez o tenha feito de forma coerente. Não sei se é porque vivemos conforme a idade que temos ou porque a idade que temos nos faz viver de certa forma. Assim como gente feia costuma ser legal e, gente bonita, geralmente, costuma ser arrogante e chata (ok, isso não precisava estar escrito aqui, não é científico). Paradigmas. Quando eu era mais nova, lembro do meu irmão falando, ou melhor, papagaiando uma frase que ouvira em qualquer lugar: "devemos quebrar paradigmas". Eu não sabia o que significava, somente tinha um feeling. Não quebramos paradigmas; quase sempre, só seguimos em frente. Não sei o que significa passar pelo planeta Terra e viver ínfimos oitenta e cinco anos, em média, e vangloriar-se de ter vivido tanto, talvez tão intensamente e morrer dignamente com uma bagagem a que se julga "Sabedoria". É como se a pessoa pensasse "ótimo, agora que tenho 30 anos, tenho experiência mediana" ou "muito bem, cheguei aos 40, já posso ter uma crise de meia idade". A vida costuma ter urgência por padrões. Eu vejo padrões de cores em toda parte; padrões de comportamento de tribos, de idades; de opiniões, música, gostos. Quase tudo chocando de frente com algo, conflituoso. Um negando o outro, um anulando o outro. Mas sempre sendo retomando um pouco mais a frente. Talvez eu não concorde com a "linha do tempo" do Facebook, por exemplo. E sim com a espiral de tempo de Hegel. Talvez eu ache que, daqui cinco anos, quando completar trinta anos, eu vá matar a pessoa que fui na faixa dos vinte. Um pouco menos criativa, claro. Porque a faixa dos 20 aos 30 anos é a época mais criativa de uma pessoa. . . .
(continua)