27.7.10

Três

Se ando pela rua, é sempre tentando acertar meus passos. É inevitável pensar que os outros que andam comigo, ou em minha direção têm rumo definido e passos firmes.
Sou um(a) sonhador(a), e flutuo acima dos meus pés e das minhas expectativas. Com um sentimento nítido de que não sou daqui, permaneço de onde saí. Mesmo não sabendo que lugar é. Um tipo de inércia sem corpo; tipo uma marca de nascença que não se pode ver.
Das grandes indagações que ousei pensar, a que mais pesa é a necessidade de estar sempre indagando sem obter uma explicação, uma boa explicação.
Mais fácil seria se a vida passasse sem a gravidade dessa grande dúvida.
Mas sem a gravidade, não seria atingida a profundidade desejada.

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Estou olhando para fora e, mesmo que não quisesse, posso sentir o cheiro da chuva. A chegada dela me arrepia a pele e faz balançar as árvores.
Ouvi de cinco pessoas diferentes, cinco relatos totalmente inesperados do que possa ser a chegada da chuva.
Perguntaram, na minha vez, qual meu olhar sobre tudo. Dei a entender que o cinzento que tomava o céu não só era amedrontador, como uma força impossível de se deter (sempre incapaz de me expressar verbalmente). Perguntaram-me, então, se a vinda da chuva me fazia mal. "Não. Sobretudo me faz bem. Forças assim que me fazem parar". Não sei o que poderia me deter não fosse uma chuva vindo. Teria que alçar voo noutro momento.

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É a visão de quem tudo vê! A cabeça de quem tudo pensa! O impossível de quem tudo pode fazer.
Ideal bobo e desnecessário(?).

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